“TEMPLOS DE PAZ”
07/03/2018 17:22:24
Recordando antigos quartéis
Pesquisa/Texto: Luís Miguel Baptista
Para esta edição do “BP”, entendemos reservar,
aleatoriamente algumas imagens fotográficas de antigos quartéis de bombeiros,
por natureza, no caso dos voluntários, sedes das respectivas associações
humanitárias.
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Deste modo procuramos preservar a memória colectiva de
diferentes imóveis, uns já demolidos e outros ainda existentes, que marcaram
determinadas épocas e afirmaram os bombeiros nas respectivas localidades.
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Com a expansão do serviço de incêndios e à medida que se foi
intensificando a sua organização, subordinada a novos conceitos tanto do ponto
de vista estrutural como material, passou a ser aplicado o vocábulo
"estação", secundado pelo actual "quartel".Ao termo "quartel" antecedeu, mais precisamente
nos séculos XVIII e XIX, a expressão "casa da bomba", utilizada para
identificar o local onde em determinado lugar, aldeia, vila ou cidade do país
era guardada a bomba manual de combate a incêndios.
Durante muito tempo os quartéis de bombeiros funcionaram em
espaços adaptados para o efeito, solução que progressivamente veio a ser
colocada de parte através da construção de edifícios de raiz. Na sua maioria
apresentando condições modestas, tal como acontecia nas vulgarmente designadas
"corporações da província", cedo se tornaram pontos de referência,
sendo interiorizados pelas populações como algo muito seu, consequência lógica
do movimento associativo da sociedade civil que presidiu à fundação das
instituições.
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Através do alargamento da missão dos bombeiros a outras
áreas, os respectivos quartéis passaram também a assumir maior importância
social, tornando-se cada vez mais presentes na vida das comunidades. Assim veio
a acontecer, por exemplo, com a disponibilização do serviço de auto-maca e a
instalação de postos de socorros. E, de modo reforçado, a partir do momento em
que, a título complementar, procurando suprir necessidades de âmbito local,
passaram a acolher postos de telefone público, salões de festas, bibliotecas e
infra-estruturas desportivas, entre outras vertentes conducentes à valorização
moral e intelectual das populações, no âmbito das quais, por exemplo, muitos
cidadãos tiveram a oportunidade de tomar contacto, pela primeira vez, com o
cinema, a rádio e a televisão.
A esses tempos e factos, de inquestionável alcance na
melhoria da qualidade de vida colectiva, reportam-se as imagens que aqui
publicamos, desafiados por apresentar uma galeria de alguns dos mais
emblemáticos "templos de paz", conforme, um dia, alguém se lembrou de
qualificar os quartéis de bombeiros.
Um carroçamento dentro de quatro paredes…
Contrastando com os dias de hoje, vulgarizados pelo recurso
a empresas da especialidade, no passado, grande parte dos veículos dos corpos
de bombeiros, tanto os pronto-socorros como as auto-macas, eram carroçados nos
próprios quartéis, concorrendo para o efeito a mão-de-obra de dedicados
voluntários, muitos dos quais ligados ao sector secundário.
Os trabalhos realizavam-se em período pós-laboral, à noite e
aos fins-de-semana, sendo uma consequência natural dos parcos recursos
financeiros das associações de bombeiros, facto que, sublinhe-se, os
respectivos elementos dos corpos activos e auxiliares sentiam e viviam como
algo de pessoal.
O voluntariado tinha orgulho em apoiar as direcções e os
comandos na resolução dos problemas internos, assumindo uma atitude activa e
responsável, solidarizando-se. E diga-se, também, em nome do bom rigor
histórico, que tinha vaidade do trabalho executado, mantendo por isso os
veículos sempre primorosamente cuidados, nos parqueamentos dos quartéis.
Idealizados por comandantes e outros entusiastas pelo
progresso do material circulante, os carroçamentos, geralmente efectuados em
chassis de automóveis particulares que não haviam sido concebidos para serviço
de socorro, estavam, porém, sujeitos ao cumprimento de normas técnicas
estabelecidas pelas entidades inspectivas dos corpos de bombeiros. Quer a
Inspecção de Incêndios da Zona Norte quer a Inspecção de Incêndios da Zona Sul
tinham também competência para homologar os veículos, mediante os
correspondentes projectos, cuja apresentação em termos processuais era
indispensável. No entanto, houve tempos em que os carroçamentos dependiam do
exclusivo critério dos corpos de bombeiros, daí resultando, por vezes,
situações embaraçosas e quase anedóticas. É disso exemplo o caso relatado por José Luís Filipe, no
seu livro “Os Bombeiros Voluntários de Sintra – Subsídios para a sua
História no 1.º Centenário da Fundação (1890-1990), ao qual recorremos para dar
exemplo concreto de um carroçamento problemático:
“No dia 25 de Junho
de 1928, é inaugurada uma camioneta "Brocway", que foi adquirida em
leilão e posteriormente adaptada pelos Srs. Carlos da Paula e Etelvino Pacheco,
assim como uma outra viatura para transporte de feridos e doentes que continha
duas macas. Receberam, respectivamente, os nomes de "Sintra" e
"Caridade". Contam os velhos bombeiros que a ambulância atrás
referida e depois de adaptada, não podia sair do quartel devido ao facto das
suas dimensões ultrapassarem em grande escala as medidas da porta. Por esse
motivo, ou se demolia a passagem ou, desmanchava-se a viatura em causa. Optou-se
pela segunda versão. A supracitada ambulância ficou, a partir de então,
alcunhada de "Grande Hotel Estoril".
Artigo escrito de acordo com a antiga ortografia
Site do NHPM da LBP:
www.lbpmemoria.wix.com/nucleomuseologico